sábado, 17 de julho de 2010

A cabeça sem corpo

Noutro dia, com mais tempo, talvez aprofunde esta abordagem que hoje deixo rasa... então poderei falar mais do “corpo sem órgãos”, formulação de Artaud, que Deleuze e Guattari tornaram noção-conceito.
Trata-se, aqui, de um esclarecimento que eu há muito buscava sobre as práticas periciais no INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social... nunca consegui entender de que seguridade social cuidava esse Instituto, se muitos de seus peritos declaram aptos ao trabalho, pessoas que até contam com relativa funcionalidade do corpo, mas não da cabeça, ou, também, ao contrário, contam com relativa funcionalidade da cabeça, mas não do corpo... ficava a me perguntar que seguridade é essa que olha o sujeito como se fosse um amontoado de órgãos independentes e autônomos que vivem anulados ou alienados à tudo o que os compõem... mas, enfim, por meio de um colega de profissão, veio-me essa resposta!
O referido colega foi acometido por uma hepatite que o transformou num trapo humano (não sei dizer qual seja o tipo de sua hepatite, mas sei que no dia em que o encontrei recém saído da perícia, seu estado deixou-me assustada, pois parecia um cadáver ambulante). Esse colega sempre foi muito ativo e dinâmico, e, num repente, virou um farrapo que mal conseguia se arrastar... esteve por algum tempo recebendo auxílio-doença e, estando ainda absolutamente fragilizado, foi considerado pelo sábio perito, apto ao trabalho... este deferiu-lhe condições ao trabalho, visto que psicólogo não necessita do corpo para operacionalizar as suas atividades profissionais!
Talvez o perito também não necessite do corpo para desenvolver suas atividades profissionais, visto que seu olhar seja cego, seus ouvidos sejam moucos, seu cérebro seja desconectado da coluna vertebral e sua visada de mundo seja fruto de sua mirada em terceira dimensão... assim como ele, apesar disso, consiga ser perito, acredita que um segurado que esteja em tamanhas e precárias condições, também consiga dar conta de suas atividades profissionais!
Talvez isso também explique o fato de que alguns profissionais da saúde consigam atuar de forma concomitante em vários espaços de trabalho (SUS, Plantões, Consultório Particular, Outro Emprego, Entre Outros... e ainda exercer alguma representação política ou de categoria profissional)... só uma-cabeça-sem-corpo ou, talvez, um-corpo-sem-cabeça seja capaz de tal façanha... os comuns mortais não têm essa capacidade.
O interessante desse entendimento do perito é que, se o estado de adoecimento de nosso corpo não afeta nossa capacidade mental e intelectual, então também podemos passar a noite sem dormir e no outro dia mandar ver! Ou, exagerar na feijoada ou em qualquer outra coisa, e a cabeça se vira solita, sem o corpo que baqueia.
Afora tudo isso, é assustador o (des)entendimento que o dito perito apresenta sobre as coisas mais básicas da vida das gentes... se fosse gente e pensasse, talvez ele entendesse a comunicação que possa existir entre uma cabeça e um corpo... talvez ele não saiba porque nunca tenha passado por essas coisas!

Da Luta Antimanicomial

Estou postando um relato da colega Ivarlete Guimarães de França, Psicóloga Conselheira do Conselho Estadual de Saúde do RS. Vejamos:
"Olá Povo! Encaminho o relato da Audiência Pública que ocorreu na Comissão de Saúde e Meio Ambiente!
A Audiência Pública parecia ter sido promovida pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa para para tratar das "más condições de trabalho" e da falta de assistência médica e do Plano de Carreira dos Servidores do Hospital Psiquiátrico São Pedro, conforme solicitação da AFUSP - Associação dos Funcionários do São Pedro, entretanto, a mesma serviu de estratégia para que setores conservadores do hospital viessem defender suas posições raivosas contrárias à Reforma Psiquiátrica.
Estratégicamente organizados, representates dos mais diversos campos da psiquiatria gaúcha e gestores do hospital teceram elogios, ressaltando as condições de excelência com as quais se encontra o manicômio, contradizendo, inclusive a posição da AFUSP e dos trabalhadores que que falaram na Mesa de Abertura.
Estes psiquiátras criaram um cenário hilário, alegando que a Audiência Pública foi realizada para fragilizar a instituição para depois pedir o fechamento do HPSP. A confusão formada, propositadamente, favoreceu os Gestores Estadual e Municipal presentes (Arita eo Casartelli) que deixaram sem resposta as reivindicações dos trabalhadores, pois os discursos dos psiquiatras (Busnello, Coronel, Gustavo, Bruno do SIMERS, etc.) e outros setores se reduziram a palavra de ordem: "não deixem o hospital morrer, salvem o HPSP" parecia aquelas frases escritas nos muros de Porto Alegre: "Elvis não morreu, Elis vive, etc".
Na qualidade de Conselheira do CESRS, manifestei que o Conselho defendia condições dignas de trabalho para todos os cuidadores do SUS e apontei para os avanços da Reforma Psiquiátrica, onde foram implantados 132 CAPS no estado e abertos 875 Leitos Psiquiátricos em Hospitais Gerais, 600 Leitos Clínicos para atender usuários de álcool e outras drogas, mas que ainda restavam 810 leitos em hospitais psiquiátricos que deveriam ser substituídos com a ampliação da Rede". Ressaltei que a III Conferência Estadual de Saúde Mental intersetorial RS, ocorrida em maio deste ano, contou com mais de dez mil participantes de diversos municípios, onde a sociedade gaúcha referendou a Reforma Psiquiátrica como sendo uma importante política pública de estado, devendo ser colocada em prática pelo poder público, cujas propostas formuladas foram aprovadas também na IV Conferência Nacional em Brasília.
Os trabalhadores denunciaram as más condições para o atendimento dos pacientes, alegando que o hospital está infestado de ratos e outros parasitas. Depois de ouvir as queixas dos trabalhadores referí que se hovesse mais investimento dos Gestores na rede de serviços substituvos chegaria o dia em que trabalhadores e usuários não precisariam mais conviver confinados nestas institições totais dividindo espaço com os insetos.
As propostas dos psiquiátras, foram de que HPSP deverá se transformar em um complexo de ecxelência em Ensino e Pesquisa, que deverá ser criada uma Fundação de Neurociência, um Instituto de Psiquiatría, se transformando na maior Referência para Formação em Saúde Mental no Brasil. Pena não haver nenhuma universidade presente para apresentar um outro contraponto para o deputado, Gilmar Sossela, Presidente da Comissão, que pareceu bastante seduzido com a proposta dos psiquiátras!
Na fala da Secrtária de Saúde Arita Berggmann ficou claro que a intenção de seu Governo é revitalizar o hospital e que para isso, serão investidos no HPSP, R$ 1,5 milhões que já foram licitados. Depois desta colocação da Secretária eu questionei sobre por onde passou essa discussão que definiu estes investimentos no HPSP, visto que a alegação do gestor no CES tem sido a de que faltam recursos para investir nos CAPS e nos demais dispositivos da rede.
No final da Audiência, ao ser citada várias vezes, pedi novamente a palavra e chamei atenção do Deputado Gimar Sossela, para a mudança do foco da Pauta da Audiência e ressaltei que da próxima vez em que a Reforma Psiquiátrica fosse ser debatida e avaliada, deveria ocorrer de forma ampliada, com o conjunto da sociedade e não apenas entre os Servidores do HPSP.
A situação foi tão surreal que o Paulo Michelo foi apontado pelo SIMERS como sendo Presidente do Fórum Social Mundial e que ele era contra os psiquiatras, coisa que o Paulo respondeu a altura, dizendo fazer parte de um colegiado do FGSM e que seu Movimento era antimanicomial e não antipsiquiatria!
Ao terminar a Audiência, usando um tom irônico, o Sr. Busnello se dirigiu para me dizer no "pé" do ouvido que eu não ficasse desapontada mas que ele teria que me informar que o Michel Foucault era homossexual, eu respondi que eu não me sentia desapontada uma vez que eu nunca me interessei pela sexualidade dele, mas alertei ao Sr. Busnello que seria importante ele procurar descubrir quais fantasias motivavam seu interesse pela opção sexual do Michel Foucault. A coisa descambou para este nível!!
As quatro pessoas que fizeram o contraponto em favor da RP foram: Ivarlete, Paulo Michelom, Sandra Leon e Silvia Giugliane, eramos, nós, contra todos! Sentimos muita falta da presença do conjunto da nossa militância gaúcha! Sabemos que o momento é difícil para todos, mas não podemos nos ausentar destes espaços de enfrentamento, neste momento, esta nunca foi a característica dos lutadores sociais do nosso estado! A bém da verdade, a RP está constantemente sendo ameaçada e a qualquer momento poderemos ter surprezas pela frente, com o recrudecer da Era dos hospícios novamente! Ficamos sabendo que além dos investimentos que serão feitos no São Pedro, foram aberto mais 30 leitos no H. Espírita que estão sendo gerenciados pelo Mãe de Deus.
Att. Ivarlete Guimarães de França - Conselheira - CESRS - Fone 51 84328067- 51 98088582"

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Para cão comer!

Assumo que não aprecio falar em futebol... esporte que ainda é esporte somente nos campinhos e olhe lá!... no mais, tornou-se um mundo de corrupção e usurpação da dignidade de jogadores, torcedores, etc.
Os clubes de futebol foram transformados em grandes produtores de lucro pra servir à fome devoradora das federações, dos cartolas, dos empresários, entre outros. Assediam e agenciam meninos que mal saíram das fraldas, dopando-os com valores da moral hipócrita e do cheiroso mundo do consumo, os “revelam” e jogam os adocicados garotos na arena da disputa... todos desejam ser os melhores... todos querem ser vistos por quem possa pagar mais e melhor por seus virtuais “passes”... geralemente são vendidos para colocar mais dinheiro nos cofrinhos dos gananciosos cartolas.
Esses garotos geralmente crescem com os referenciais desse mundo podre em que se banaliza a vida, a humanidade e a solidariedade. Crescem não para serem mais um no coletivo, mas para serem aquele que brilha no alto da montanha das ilusões, para onde o coletivo olha, se emociona, vibra e deseja estar! Crescem pensando que realmente estão no topo e que nada os atinge... não sabem o que está no outro lado da montanha!
É assim que essa gurizada, na sua grande maioria, fica agoniada para se sobressair e ganhar valor comercial... vende-se seu nome, sua camisa, seu corte de cabelo, seu corpo, seu passe... ficam tão esquecidos do fato de praticarem um esporte, que não se constrangem em se tornarem papagaios de publicidade de bebida alcoólica, refrigerante, cigarro, entre outras drogas... tornam-se atores... perdem a capacidade de serem aquilo que realmente são... devem se comportar conforme à cartilha do poder futebolístico que os comprou, pois são seus princípios que alimentam suas cabeças... a grande maioria segue o regimento, mas muitos deixam à mostra a realidade que fica escondida por trás da montanha, nas coxias, por trás das luzes ofuscantes da ribalta, e assim também mostram que aquela imagem projetada no topo seja apenas ilusão de ótica.
Os garotos são transformados em pobres meninos-ricos que seguem o faro que o cheiro do consumo lhes registrou na memória... recebem por um mês de trabalho, aquilo que a maioria dos trabalhadores nunca chegará perto de alcançar, ralando dia e noite durante toda a vida... querem comprar tudo o que o dinheiro lhes permite comprar, inclusive a dignidade dos outros, assim como a sua lhes foi comprada... muitos, com dificuldade para construir relações humanas e afetivas, compram o tempo e o contato com as pessoas!
É assim que, o que poderia ser só um exercício sexual grupal (no caso das orgias protagonizadas por jogadores de futebol que a GLOBO não ousa dizer o nome, pois atingiria seus próprios interesses comerciais, assim como de seus anunciantes), transforma-se numa aviltante ciranda de hipocrisia e podridão... num balaio de sexo, drogas, hipocrisia, arrogância e degradante auto-afirmação.
Nessa teia, Bruno, o goleiro do Flamengo, prendeu seus caracóis... menino vindo da miséria afetiva, humana e social, esmagado pelos chutões que o expurgaram da própria vida, foi aos poucos idealizando a própria imagem que quis projetar no topo. Aliciado pelo devorado mundo futebolístico, tornou-se mais um garoto de programa do futebol brasileiro. Os valores que lhe foram planteados por esse mundo-cão, cruzaram com os valores que o tornaram forte para sobreviver em meio aos cacos de existência que foi colando para sobreviver.
Juntou isso tudo, com o poder daqueles que ateiam fogo nos podres poderes... cruzou seus trocados com os trocados do mundo das drogas, do crime contra a vida, do cenário que fica ofuscado pelas luzes da ribalta... as luzes só foram apagadas e o cenário apareceu, porque alguma coisa saiu errado no espetáculo... Bruno ia seguir normalmente a sua vida, retomando o Brasileirão, fazendo defesas com cara de quem vai espancar a bola, fazendo orgias com garotas de programa cujos nomes talvez nem viesse a saber, os cães de seu amigo seguiriam comendo as tenras carnes de outras moças e de outros corpos que fossem apagados por trás da ribalta... o sítio de seu amigo continuaria recebendo estranhamente o descarte de “carcaças de animais”... as mulheres seguiriam sendo contempladas no papel de objeto e para tal continuariam sendo convocadas para serem servidas nas bandejas ao lado das bandejas de drogas... Bruno poderia vir a ser o goleiro da seleção do Ricardo Teixeira em 2014 e pisotear tudo e todos que marcaram as patas em seu imagnário.
A garota de programa, atriz pornô, etc., que teve um filho com Bruno, quase foi crucificada por suas ocupações profissionais, numa tentativa de dizer que o inocente jogador a conheceu numa farra... quis sair ileso dessa festinha que serviu seus restos aos animais!
Tudo isso, não é pelos míseros trocados que teria que pagar como pensão àquela que a mídia-hipócrita transformou em sua amante... não é pelo filho que ele quis que ela abortasse (nesse caso, somente um estorvo)... não é por tão pouco... talvez seja porque tudo isso ameaçava apagar as luzes da ribalta e dar a ver o que compõe o cenário esquecido por detrás da cortina... certamente só será visto esse recorte do cenário e se jogará o pano sobre as demais ossadas que foram descartadas naquele sítio, ou sobre as ossadas descartadas pelo mundo do futebol, ou as do mundo do tráfico (que serve principalmente à burguesia discreta e podre), ou as do solene mundo capitalístico e do consumo... Bruno, o jogador, talvez logo seja reabilitado pelo próprio Flamengo ou por algum clube estrangeiro... afinal, como ele próprio disse “quem nunca saiu no tapa com a mulher?”, ou quem nunca matou alguém e jogou para os cães comerem, ou quem nunca se relacionou com outras pessoas como se elas fossem meros objetos?... talvez os pobres cães é que sejam penalizados, pois comeram os restos da garota tirada do cenário e esqueceram de limpar o focinho!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

UMA CANÇÃO-RECADO

FOI NO MÊS QUE VEM - De Vitor Ramil Para Ana Ruth
Vou te vi. Ali deserta de qualquer alguém.
Penso, logo irei. Que seja antes minha que de outrem.
Quando o vento fez do teu vestido. Um dom que deus te deu.
Claro que eu rirei. Ao vendo o que outro alguém não viu.

Vou andei. E me chegando assim te cercarei.
Digo, aqui tô eu. Que te amo e às tuas pernas quero bem.
Já que estamos nós. Te sugeri-me então o que fazer.
Claro que eu beijei. Ao tendo o que outro alguém não quis.

E tudo isso. Foi no mês que vem.
Foi quando eu chegar. Foi na hora em que eu te vi.
E mais que tudo. Foi no mês que vem.
Foi quando eu chegar. Na hora em que eu te quis.

Vou fiquei. No teu chegado e tu chegada ao meu.
Penso, grande é deus. Um paraíso prum sujeito ateu.
E pensando assim. Farei aquilo que o teu gosto quis.
Claro, eu já ganhei de volta. Tudo o que eu quiser.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Rebordeios do SUS

Antes de falar da dita “diferença de classes” no SUS, quero falar um pouco de algumas coisas que já mencionei em outros escritos, pois acho que nunca é demais contornar algumas letras com grafite molhado.
Como fazer o SUS acontecer efetivamente como política pública? Muitos trabalhadores do SUS atuam ainda guiados pelo velho ideário da gorda saúde dominante, entre os quais encontram-se aqueles que desacatam os usuários ou tratam-lhes como se estivessem fazendo um custoso favor, mas muito apreciam colar nas paredes, feito um crucifixo para espantar satanás: “Desacato – Art. 331 – Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: pena – detenção de seis meses a dois anos, ou multa”... nada é dito sobre o desacato ao Usuário!
Outros fazem do SUS, mais um “bico”, em que tem uma atuação “THE FLASH”, atendendo os usuários sem nem sequer terem tempo de olhar em seus olhos ou de escutar a história que lhes habita.Outros são franco-usurpadores da coisa pública e, ao contrário dos fazedores de bico que reduzem a jornada de trabalho para equipará-la aos baixos salários que recebem, pretendem supervalorizar e super-dimensionar seus salários, outorgando-se um valor acima de tudo e de todos... chegam ao descabimento de declararem-se merecedores de um salário muito superior ao dos demais, para se manterem suas atuações “the flash”!
Outros estão absolutamente fora do ideário preconizado e ancorador do SUS... exemplifico com uma situação em que, atendendo uma usuária que passara por uma tentativa de suicídio e que, apesar de estar medicada e em atendimento psicológico, ainda continuava em intenção de morte, necessitei discutir com a médica que prescrevera a medicação e fazia o acompanhamento à referida usuária, para que fosse feita a revisão e adequação da medicação prescrita, quando, para minha estúpida surpresa, recebi um retorno da mesma atendente que fora chamar a médica ao telefone, que a mesma declarara que não tinha nada para falar comigo e que não falaria... numa nova tentativa, mais tarde, ela reafirmou o dito... fiquei matutando, com isso: será que essa colega de trabalho pensa que trabalho em rede seja trabalho de pescador ou de quem gosta de ficar atirado numa rede enquanto a vida passa por baixo?! Fiquei sem resposta, até porque não tenho como saber o que pensa uma colega que não fala com os demais colegas!
Nem falarei aqui sobre a questão da valoração das remunerações ou da precariedade das mesmas para os trabalhadores das políticas públicas em geral. Somente sublinharei que quando fazemos um concurso público ou escolhemos trabalhar em determinado lugar, sabemos de antemão quais sejam as condições de trabalho e de remuneração, sendo que, a partir disso, são outros campos de luta que se faz necessário articular.
Veja-se que quando falo em campo de luta, não me refiro ao exercício desigual, injusto e crápula do corporativismo ou da pressão covarde que muitos trabalhadores públicos exercem no campo em que atuam. Por exemplo, o que pode justificar que uma pessoa que é nomeada para trabalhar 40 horas semanais, que é remunerada para tal, ache justo, digno e ético trabalhar somente no máximo 6 horas por semana e ainda entender que deve ganhar mais, enquanto os usuários devem esperar mais de 3 meses para serem precariamente atendidos por esse mesmo trabalhador?! Ou o que justifica que alguém seja nomeado para trabalhar 20 horas e o faça em no máximo 8 horas semanais?
E é necessário dizer que não se trata de meramente cumprir horário, ou de fazer o discurso de que o que interessa seja a qualidade do trabalho... não sei como se pode mensurar o trabalho de alguém que entra e sai rapidamente, sem mal ser visto e sem esboçar uma palavra sobre o trabalho que desenvolve e em que atua.
Sublinho também, que não se trata de criar ou ampliar as desigualdades salariais, como foi o caso de determinados programas que definiram salários mais altos visando à dedicação integral dos trabalhadores de todas as áreas que aí atuam, o que, por si só, não garante a qualidade do atendimento, nem o formato que lhe é preconizado. Sem contar que, no caso dos PSFs (agora ESFs), o trabalho que deveria ser desenvolvido seja o trabalho cartográfico que reconheça os movimentos das gentes que aí vivem e possibilite construir coletivamente os agenciamentos que fomentam a cultura da saúde e não do adoecimento ou da panacéia medicamentos... mas não é isso que se faz na maioria dos lugares, mas sim, uma atuação cercada por viseiras que impedem os trabalhadores em saúde de olharem um metro além do riscado do mapa que indica a região de cobertura daquele PSF (já ocorreu de me ser negado atendimento à uma usuária porque a mesma mora a meia quadra do fim do riscado da região de abrangência do PSF), ou uma atuação centrada no saber médico... saber médico de médicos que sentam em seus gabinetes e atendem fichas!
No mais, afora as questões próprias à efetivação dos projetos, programas e serviços da política pública de saúde, o que impede o rompimento com essa cultura usurpadora da dignidade das gentes, guiada pela arbitrariedade e pelo autoritarismo corporativo de muitos trabalhadores, talvez esteja do mesmo lado desses que defendem a “diferença de classes” no Sistema Único de Saúde... são todos da mesma estirpe... são aqueles que não resistem ao massacre do sistema dominante porque fazem parte de suas idéias, de suas intenções, de seus propósitos e de sua contumaz exploração da dignidade da maioria das gentes!
Quem quer a garantia da “diferença de classes”, quer atender apenas aos interesses individuais e não coletivos... quer atender às necessidades de poucos e não da grande maioria... quer usar o poder financeiro para não ter que andar nas mesmas veredas em que andam quase todas as pessoas do Brasil... são esses os que não participam das lutas que interessam ao coletivo e exercem a influência que os caracteriza, para deixar ao léu, uma caminhada de construção do SUS que já custou muita estrada para quem segue suas trilhas e, simplesmente, pisotear uma luta e um campo que é de todos e não desses poucos que cuidam dos interesses de poucos!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

DIVULGAÇÃO: Seminário Outras Palavras

Seminário Outras Palavras, a ser realizado nos dias 6 e 7 de agosto.
O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul promoverá nos dias 6 e 7 de agosto o Seminário Outras Palavras. O evento, aberto a psicólogos e estudantes, ocorrerá no auditório do CRPRS com o objetivo de aprofundar o debate sobre o cuidado de pessoas que usam drogas, priorizando os direitos humanos e o protagonismo cidadão e tendo como diretriz a redução de danos. Na ocasião também será lançado o livro do Grupo de Trabalho Outras Palavras, uma coletânea de artigos sobre o tema.
O GT Outras Palavras vem defendendo, desde sua criação em 2008, um projeto na perspectiva da coletividade e respeito à diversidade, à defesa dos direitos humanos e à melhoria da qualidade de vida. Exemplos de projetos nesta perspectiva são a criação de espaços de lazer, esporte e cultura em comunidades e o fortalecimento da rede de cuidados com o envolvimento de diferentes segmentos da sociedade.
O Seminário contará com a presença já confirmada do psicólogo Eduardo Passos, da Universidade Federal Fluminense, e do historiador Ricardo Charão. As inscrições para o seminário são gratuitas e deverão ser enviadas para o e-mail eventos@crprs.org.br. No final do evento haverá a entrega de certificados.

domingo, 11 de julho de 2010

Para uma amiga que não se importa em morrer!

Venho, neste escrito, esboçar algo um tanto sentimentalóide, mas vital... literalmente vital! Tenho uma amiga que talvez seja uma das mais importantes em minha vida pessoal e profissional... talvez ela nem saiba disso... e, há algum tempo, foi constatado que ela tem um problema nas veias carótidas que pode levá-la à morte a qualquer momento, sendo que um tratamento rigoroso poderia amenizar essa situação, mas ela, fazendo Doutorado, escolhe primeiro dar conta disso e, se sobreviver, pretende cuidar de sua saúde depois disso... não só porque esteja fazendo doutorado, mas principalmente porque ri da vida para não ter que rir com ela!
Essa amiga tem uma filha linda... linda em todos os sentidos... que tem um nó no peito quando tem que falar dessa possibilidade de que a mãe possa se ir, sem mais e nem menos, mas pelo absoluto individualismo dela.
Tenho um tamanho apreço pela vida, porque, por escolha própria, seguidamente ela ameaça me faltar... para enfrentar seu contraponto, acordo todos os dias e enfrento tudo o que tenho que enfrentar... isso me fez criar um apreço inestimável por ela... espalho suas sementes por todos os lugares em que transito... penso que essa seja a única coisa que temos: A VIDA... é tão certa e, ao mesmo tempo, tão incerta, que tudo o que agregamos à ela seja a potência mais absoluta que possa justificá-la.
Há mais ou menos dois meses estive com essa amiga e conversei com sua filha sobre como a mãe estaria conduzindo a situação. A filha disse que a mãe não estava se importando com o estado e adoecimento, mas que ela se importava com isso.
Ontem estive novamente com essa amiga e quando falamos dessa questão, não consegui dizer nada do que penso... fiquei atordoada... apesar de todas as minhas convicções anarquistas e anti-totalitárias, entendo a vida como nossa única vontade de potência... depois da vida há somente o que fomos e o que poderíamos ter sido!
Para entre-finalizar, trago um escrito-sonho dessa mesma amiga – “Deleuze: o Outro - Nov. 1997: Numa loja de idéias, toco mostruários invisíveis, pensamentos em meio a cabides transparentes e vazios. Corpos despidos, (des)conhecidos, saltam sobre os balcões. Correm. Escondem-se. Estranho o tumulto que me invade pelo avesso, desprezo a agitação e parto para uma longa rua escura. Em minha direção corre um vulto. Parece um homem. Seria um vampiro? Um morcego? Vem saltitando todo de preto. Flutua. Sonha um vôo e bate sua capa preta como se fosse asas. Dou volta. Entro na loja de pensamentos e ouço a anunciação de Deleuze. Enfrento-o solitária e excitada. Sou aquela que no seu estado de paixão/afetação quer ser possuída pelo vampiro. Acordo. Reviso rabiscos de outros tempos e corrijo um texto que fala com quem escreve. Depois de tê-lo riscado, mudado palavras, assusto com o nome entre parênteses: Deleuze. Jurei minha, esta escrita. Rio com o texto todo cheio de “correções”. Quem é o autor? A mordida vem antes? E quem vem depois?”
Sem mais, para o momento!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

DIVULGAÇÃO: Revista Digital Panorama Critico

Caros amigos, aqui vai o link da revista digital PANORAMA CRÍTICO, com um dossier sobre o Vidas do Fora. Esperamos que gostem! abraços...
http://panoramacritico.com/006/
tania galli & luciano bedin

DIVULGAÇÃO: Método de Dramatização de um Currículo

DIVULGAÇÃO: Congressos

CONGRESSO INTERNACIONAL “SOLIDÃO NOS LIMIARES DA PESSOA E DA SOLIDARIEDADE: ENTRE OS LAÇOS E AS FRACTURAS SOCIAIS”
III CONGRESSO DA SOFELP – SOCIEDADE DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
1ª circular - Informação Geral
Nos dias 18, 19 e 20 de Maio de 2011 terão lugar em simultâneo o Congresso Internacional “Solidão nos limiares da pessoa e da solidariedade: entre os laços e as fracturas sociais” e o III Congresso da SOFELP – Sociedade de Filosofia da Educação de Língua Portuguesa com a colaboração da SOFPHIED – Société Francophone de Philosophie de l’Éducation.
Este evento é uma iniciativa conjunta do Gabinete de Filosofia da Educação / Instituto de Filosofia da Universidade do Porto / R. G. Filosofia da Educação no Espaço de Língua Portuguesa, do ISCET – Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo / área do Serviço Social e da SOFELP - Sociedade de Filosofia da Educação de Língua Portuguesa, em parceria com a SOFPHIED.
Espera-se com este encontro uma partilha interdisciplinar de conhecimentos e reflexões a partir de problemáticas incontornáveis da sociedade contemporânea como o são a solidão e a solidariedade nas suas conexões complexas com os projectos educativos e de intervenção social. Para além de conferências e mesas-redondas conduzidas por especialistas nestes domínios, haverá espaços para a apresentação de comunicações de acordo com as temáticas abaixo discriminadas.
Com esta primeira circular pretende-se anunciar a realização do Congresso e sensibilizar para a participação no mesmo investigadores, professores, outros profissionais, estudantes assim como, em geral, todas as pessoas implicadas nos domínios da educação e do trabalho social, com vista a uma participação nesta iniciativa.
· Temática: As sociedades contemporâneas estão marcadas por mutações de profundo significado que nos obrigam a questionar conceitos e concepções de vida. Fenómeno de grande relevância é o da transformação aguda e acelerada das relações sociais e pessoais. Relações marcadas nomeadamente pela convergência de antigos e novos laços sociais que, na sua dinâmica, se desenvolvem muitas vezes numa relação crítica com a emergência de fracturas sociais. Entre os primeiros e as segundas emerge a figura tão presente quanto indecisa da solidão, a qual, na diversidade das suas vivências e das suas conceptualizações, interroga, por sua vez, os estereótipos tradicionais da solidariedade pessoal, comunitária e societal.
Se vivemos ainda no rescaldo das opções de Thomas Hobbes sobre o estatuto do Estado, de Rousseau sobre o contrato social e de Locke sobre a propriedade, vivemos também com certeza depois deles, e, sobretudo, com outras representações sobre a coesão social e o papel do indivíduo.
Tão consumada quanto ameaçada a ideologia do progresso e, com ela, a soberania orgulhosa do sujeito humanista, importa agora debruçarmo-nos, com urgência, sobre os limites, os limiares, a vulnerabilidade e a fragilidade de um ser humano a quem se colocam os desafios do niilismo e do relativismo perante a angustiante e incontornável necessidade de esperança. Questões antropológicas, problemas para as ciências humanas, desafios para a educação, interpelações às políticas sociais e educativas, problemáticas para os olhares da filosofia…
· Secções
I. Solidão sofrida e solidão escolhida: angústia, esperança e projectos de vida;
II. As idades, os percursos de vida e a solidão;
III. Solidão e solidariedade nas sociedades rurais e urbanas: continuidades e rupturas;
IV. Solidão e solidariedade na perspectiva do futuro: liberdades e ética ambiental;
V. Ciberespaço e globalização: Velhas e novas solidões, velhas e novas solidariedades?;
VI. A solidão e a solidariedade como tópicos dos projectos educativos e de intervenção social: abordagens empíricas e epistemológicas;
VII. A solidão e a solidariedade perante os desafios da inclusão e da exclusão: os limiares da vulnerabilidade;
VIII. Solidão, depressão e melancolia: conexões e distinções;
IX. A «natureza»: lugar de solidão ou desafio às solidariedades humanas?
X. Entre os laços e as fracturas sociais: o estatuto e a reemergência da pessoa.
· Secretariado Executivo: Maria Helena Magalhães – gfe-cpw@letras.up.pt; Bárbara Neiva Santos – css@iscet.pt
· Comissão Organizadora: Adalberto Dias de Carvalho/ Ângela Maria Leite/ Maria João Couto/ Nuno Fadigas/ Paulo Gaspar
· Comissão Científica (provisória): Adalberto Dias de Carvalho/ Alain Vergnioux/ Alberto Filipe Araújo/ Angel Gonzalez Fernandes/ Ângela Maria Leite/ Anne-Marie Drouin-Hans/ Antônio Severino/ Brazão Mazula/ Carlos Sacadura/ Cleide Almeida/ Divino J. da Silva/ Elena Theodoropoulou/ Fernando Tavares/ François Gillet/ Isabel Baptista/ Jean Houssaye/ Joaquim Escola/ José Machado Pais/ Laura Santos/ Luís Sebastião/ Manuel Ferreira Patrício/ Marcos Lorieri/ Maria da Conceição Azevedo/ Maria João Couto/ Michel Fabre/ Michel Soëtard/ Paula Cristina Pereira/ Pedro Pagni/ Rodrigo Gelamo/ Silvio Gallo/ Terezinha Azeredo Rios/ Walter Omar Khoan
Nota: Informação sobre a apresentação de comunicações será em breve disponibilizada.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Agora, UMA DONA SEM CÃO!

Hoje pela manhã, acordei e fui ver a nova posseira de meu imaginário. Dormira tranqüila, sem chorar durante a noite. Acordou faceira e fazendo festa. Servi-lhe água e pão com leite. Pensei: é minha!
Mesmo sendo minha, não quis prendê-la. Quis fazer com ela, esse exercício de liberdade (vai ver, já estava querendo fazer do bichinho um sujeito que saiu igualzito a dona!). Meio arvorada, vendo tanto xixi e cocô pelo chão, quis explicar-lhe que fosse fazer isso na grama do jardim.
Saindo de casa, vi que ela veio até o portão e meteu a cara pela grade. Bati o pé para que voltasse. Fui indo e sem quando percebi, ela já me seguia. Voltei com ela e depois deixei que voltasse sozinha. Segui e ela voltou a me acompanhar de longe, até que os cães do vizinho lhe deram um susto que a fez voltar em disparada. Pensei: aprendeu e voltou pra casa.
Quando retornei para casa, fui procurando por sua carinha bonita e dei com o nada! Quando percebi o vazio, entendi que o espaço estivera ocupado... imensamente ocupado... talvez fosse tarde, deveria ter sido mais incisiva em meus afetos por ela e menos reticente em minhas reflexões sem fim. Pensei: pra que pensar tanto na vida, quando ela bate em sua porta?!
Saí a dar voltas nas ruas próximas de casa, procurando pela beldade... nada! Perguntei à uma vizinha-radar se vira a MINHA cadelinha (descrevi-a com detalhes)... a vizinha, incrédula, perguntou: SUA cadelinha? Questionei se eu não tinha cara de quem poderia ter uma cadelinha... ela riu e disse que não tinha cara e nem jeito de quem pudesse ter uma cadelinha... e emendou que certamente era uma que uma senhora havia juntado e levado no colo... disse que até viu a cena, mas que pensou que o bichinho fosse dela. Ainda me deu uns pitos por ter deixado o bicho solto.
Agora espero que ela volte pra casa... já anunciei na vizinhança que roubaram a MINHA cadelinha... ela atende pelo nome de VIDENTE (= vida+ente)... se a chamarem assim, há de saber que foi o nome com que lhe acolhi!

Algumas postagens rendem mais, outras menos manifestações de quem as lê. Sempre tento responder a todos os emails que recebo e, às vezes, rendem boas e longas discussões que acabam não aparecendo no blog, portanto, no caso da MINHA cadelinha, selecionei cinco dos emails que recebi até agora, para postar junto aqui, sendo que não coloquei suas autorias, deixando a possibilidade de que, se alguém quiser se identificar no espaço destinado aos comentários, pode fazê-lo.
1. Oi Maria Luiza, Falo do lugar de uma cachorreira assumida, mas com suas ressalvas: sigo achando que gente é gente e cachorro é cachorro (não necessariamente sempre nesse grau de evolução das espécies, mas ok!) e concordo contigo sobre a "não humanização" dos caninos (apesar de também o inverso ser muito comum, o que tem de gente cachorra por aí.., mas ok de novo!). Mas sigo achando que a vida em companhia deles é tão mais agradável. Depois daquele dia de correrias, de desassossego, nada melhor que chegar em casa e ter alguém te esperando na porta. Alguém que não vai nunca te dizer absolutamente nada.. com palavras, mas que com olhadas, lambidas, latidos, rabos balançando dão conta de preencher e enfeitar o espaço que até então só era permeado pela língua portuguesa (e as outras tantas que se fala pelo mundo..).
Xixis, cocôs.. fazem parte da história de ter um cão em casa. Mas tem tanta gente que nos importuna com tanto mais, que estou até achando bom lidar com este tipo de merda..
Gosto muito do meu e falo do lugar de alguém que torce pelo teu sim, mas que também te dá plena liberdade de escolha para o não, afinal de contas não é pelos cães que abro a minha militância. Como disse antes, gente é gente, cachorro é cachorro. E tem tanta gente ainda sendo tratada como cachorro no mundo.. Beijo,

2. oi luiza, pegue logo essa cadela.... bjs,

3. Espero que fique com ela. Posso ajudar a escolher o nome?
Você continua escrevendo cada vez melhor. Se eu for para o doutorado vou levar o Dengo. Abração.

4. Assista o filme ou veja o trailler... acho que você vai entender... http://www.youtube.com/watch?v=UFY8vW5IedY
pessoas entram e saem de nossas vidas, umas fazem historia outras desaparecem... você pode amar, cuidar, fazer tudo por elas... mesmo qdo saem de vc... elas seguem seus rumos, sem se preocupar com o vazio que vão deixar...
a historia do Hachi acontece todo dia... e gratidão, lealdade, amor incondicional... isso você só terá qdo um animal te escolher, gato ou cachorro... se dê esta chance... você precisa desta experiência muito mais do que a 'bruxinha'... (q nem precisa de espaço físico, apenas de espaço no t coração). de uma 'meio bruxa'...

5. Maria lembre-se nada é por acaso.. A cachorrinha é linda..
Não é fácil achar espaço na vida da gente para nos doarmos a outro ser que será dependente de nós por um bom tempo....mas no entanto é grandioso e maravilhoso tal experiencia. Além de ser espetacular quando redescobrimos o amor nos olhos desses seres sejam bebes ou animaizinhos ... eu que o diga nesses ultimos tempos tenho vivido a maternidade como uma doação integral...
E aí ja pensou num nome para essa fofura? Heheheh bjs e boa sorte....

terça-feira, 6 de julho de 2010

CÃO SEM DONO

Não sei de onde é que vem essa história de que cão deve ter dono. Mas muitas pessoas entendem que deva ter.
Sou mais afeita aos bichos da liberdade... aos pássaros... aos precisos e imperceptíveis gatos (mas eu cá e eles lá)... aos cães de rua... e por aí vai! E não me venham com o discurso sanitarista de que os cães de rua propaguem sujeira e doenças... nunca vi um cão de rua desembrulhando qualquer coisa para comer e depois jogar o papel ou o plástico ao léu; ou largando lixos pela janela do carro (até porque eles não dirigem por não usarem carros e, assim, não poluírem o ambiente); ou outros quetais que são tão bem praticados pelas gentes que se acham tão longe da existência nas ruas.
Confesso que não tenho propriamente afeição por cães. Acho de uma estultice sem tamanho, pessoas que gastam com bobageiras para cães, o que daria para alimentar ou beneficiar muitas gentes. Talvez o que me causa incômodo, é o teatro de sujeição que os humanos (muitas vezes desumanizados) encenam com os cães, como se houvesse um modo de subjetivação canino que fosse feito para “assujeitá-los” aos bondosos “donos”... e quando os miseráveis não se “assujeitam”, ninguém consegue entender o que o tornou “tão agressivo com o próprio dono”.
Bueno, estava eu habituada a tecer meu teatro com os pássaros... os danadinhos preferem quirera de arroz à quirera de milho... mas tem uma espécie que vem aqui em casa só para comer as folhas do mamoeiro... outra que vem catar as minhocas da terra fértil da horta... a corruíra vem comer os bichinhos e as teias de aranha das paredes... e o joão-de-barro vem catar a terra fértil para construir sua morada (fico toda-toda, pensando que a terra fértil que alimento com restos orgânicos seja apropriada à construção da morada do joão-de-barro). Fiquei toda-toda quando mudei de casa, deslocando-me 40 metros e os pássaros acompanharam a mudança. Tive espamos enfurecidos com o gato-preto que transita no pátio, quando comeu os filhotes da corruíra. Vivo em contenda com as lesmas. Troco a água-doce dos beija-flores. Coisas assim-assim.
Até que minha vida teve um rodopio incontrolável no dia de hoje. Cheguei do trabalho ao meio-dia e eis que alguém se desvencilhara de uma cadelinha, deixando-a na calçada de casa. Mas quando cheguei, ela já não estava com cara e nem com jeito de que fora rejeitada (nem sei se teve essa cara)... já era uma linda e formosa dama, dona da situação. Recebeu-me com cara de quem sabe quem está chegando em casa. Abanou o rabinho. Sentou nas patinhas traseiras. Andou ao meu lado e depois retornou ao lugar que escolheu para seu território, no alto da escada de entrada da casa. Veio adornada, com um colarzinho e um pingente. Cheguei a pensar que tivesse se desgarrado de seus “donos” e que logo voltaria ao seu “lar”. Passei o intervalo do meio-dia absolutamente conflituada... dou ou não dou água e comida... chamo ou não chamo socorro dos amigos cachorreiros... acolho ou não acolho.
Ao sair, no início da tarde, já estava em duvida se queria ou não queria que ela tomasse seu rumo... ao fechar o portão (pelo qual ela pode transitar livremente entre as grades, mas não o faz) olhei em seus olhos e pensei: tomara que seus “donos” a encontrem e ela ficou me olhando com cara de quem diz “vai tranqüila que eu ficarei aqui, comportada!”, estatelou a barriga no chão e largou a fuça sobre as patinhas dianteiras. Pensei: que fazer com tamanha simpatia?
À tarde, estava em atendimento clínico e quando deu um intervalo, a primeira coisa que me saltou à lembrança, foi a cadelinha! Liguei para o Canil Municipal e a moça que atendeu informou que não podem levar filhotes ao Canil, em função das zoonoses lá infiltradas e que eu deveria cuidar do bichinho até a realização da feira para doação. Achei muito engraçado, porque não consegui dizer a ela que não teria como cuidar, pois além de não contar com espaço físico para tal, não há lugar para um cachorro em minha vida!
O mais engraçado é que me bateu um desespero como se eu não tivesse saída para a situação... como se não fosse encontrar ninguém que a quisesse ou alguma alternativa que não seja adotá-la!
Quando retornei no final da tarde, a danadinha estava mais territorializada ainda e seu cocô e xixi formavam a demarcação do mapa, inclusive sobre os capachos! Não consegui ficar incomodada com isso e, num repente, flagrei-me pensando num nome bonito pra ela.
Ainda atendi meus pacientes no consultório e depois tive que arrumar água, comida e cama pra donzela que já havia feito mais cocô e xixi, tendo diarréia depois de comer.
Agora estou aqui, nesse clima de encantamento com essa bruxinha linda e simpática... mas estou assim-assim, ainda sem lugar para um cão em minha vida e ela ali, demarcando território físico e também em meu imaginário... sem contar que quando ouvi seu latido de cachorro-bebê, tive uma alegria tão boba que quase me convenci a arredar alguma coisa em minha vida, para dar espaço pra ela... talvez a beleza não vá pra feira de doações... talvez!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Poetagens Alheias - Nada de novo

Nada de novo - de Ricardo Miyake (19/07/2008)
Esta cidade de veias escuras
Arrasta consigo pessoas idem:
Apenas uma e outra ainda riem
Mas não sabe de quê, ou quem.
Nem por quê. Acresce levarem
Junto ao corpo os farrapos
Do que um dia foram e seus olhos
Mirarem um ponto além ou aquém,
Mas estão sempre felizes,
E isso, ao cabo, é o que sobra
Depois do esforço cotidiano
De se arrastar em ônibus cheirando a vômito
Em troca de um feijão com arroz pastoso
E gente mais ou menos igual.

O dia nasceu há pouco, e o sol
Promete mais odores de dentro dos esgotos.
Mas nada há de novo:
Pessoas, cidade, feijão, arroz e vômitos
Têm todos precisamente o mesmo gosto.

domingo, 4 de julho de 2010

Dedicatória

Dia desses, encontrei jogado numa lixeira qualquer da existência (e não sei quem jogou, nem porque o fez), um livro do Fabrício Carpinejar, chamado “O Amor Esquece de Começar”. Tomei o livro para mim, pelo título e por uma dedicatória de que gostei.
A dedicatória diz assim: “O que dizer a uma mulher que exala poesia por todos os poros?... Que tem o poder de transformar o cinza em azul... E que diz, sem palavras, tudo o que quero ouvir...
Apenas, que o Amor esqueça de terminar... L.
*... e que ela iluminou a minha escuridão, quando já cansada da noite...
18/01/07”.
Por um instante quis ser essa mulher que exala poesia por todos os poros e que tem o poder de transformar o cinza em azul, dizendo, sem palavras, tudo o que alguém queira ouvir.
Por um instante quis ser essa mulher que encontra alguém cansado da noite, para iluminar-lhe, com minha luz, sua escuridão.
Só por um instante quis sentir essas coisas, depois achei melhor permanecer apenas literária, na cor que se queira estar e sendo apenas luz.
Mesmo temendo encontrar o mesmo que a pessoa que acabou por jogar o livro na lixeira, guardei-o na estante, pensando que assim como o acaso do encontro com a lixeira me fez encontrar o livro, talvez possa encontrar quem possa dedicar palavras e atos bonitos que não levem um livro e nem uma vida para a lixeira da existência, e que não sejam apenas uma dedicatória ou que possa deixar o outro nesse estado descrito por Carpinejar: “Quando estamos sozinhos, somos pela metade./ Quando somos dois, somos um./ Quando deixamos de ser um dos dois, não somos nem a metade que começamos a história”!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

DIVULGAÇÃO: E o gol se tornou apenas um detalhe

E o gol se tornou apenas um detalhe - Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria
O futebol como conhecemos hoje, com as regras gerais que permaneceram basicamente as mesmas ao longo de sua história, já tem mais de cem anos. Mas a sua importância econômica, a capacidade agregadora e a incrível gama de interesses que envolvem a modalidade atualmente não lembram em nada as primeiras partidas disputadas em campos a céu aberto. Esporte mais popular do mundo, ele se constituiu em um mercado que movimenta aproximadamente US$ 250 bilhões por ano e seu desenvolvimento acompanhou momentos históricos de muitos países. Não é à toa que o seu atual estágio esteja tão intimamente ligado à globalização econômica e financeira intensificada a partir da década de 1990.
Está longe de ser exagero ou saudosimo dizer que o futebol mudou muito nas últimas três décadas. O esporte chegou a lugares onde antes não era popular, como a Ásia e mesmo os EUA. Mas existe um dedo brasileiro nessa mundialização da bola. Para o bem, segundo muitos, e para o mal, para outros tantos. João Havelange foi durante 24 anos presidente da entidade máxima do futebol, a Fifa. Sua própria eleição, em 1974, foi possível graças às promessas de retirar da Europa o poder central das decisões que vigorava até então. Assim, conseguiu apoio da América Latina, da África e também de países dissidentes que antes apoiavam o então presidente e candidato à reeleição Stanley Rous. Em sua campanha, apoiou a reintegração da China ao órgão, mesmo contrariando, segundo ele, recomendação do ministério das Relações Exteriores do Brasil, em plena ditadura militar.
Mas claro que nem essa posição pró-chineses nem sua busca por aliados entre os países em desenvolvimento significava qualquer posicionamento ideológico à esquerda ou algum sentimento de justiça que tentasse trazer mais igualdade ao mundo da bola. Era uma estratégia de poder, e essa era bastante dispendiosa. Para satisfazer sua base de apoio, Havelange se comprometeu a ampliar o número de participantes da Copa do Mundo, de 16 para 24 já em 1978, o que gerava novos gastos tanto para as eliminatórias como para o próprio Mundial.
Nesse momento, segundo o livro Como eles roubaram o jogo, de David A. Yallop, surge a figura de Horst Dassler, presidente da Adidas que, a princípio, tinha se oposto à eleição do brasileiro ao cargo máximo do futebol. No entanto, no mundo dos negócios e da política as inimizades –e as amizades – não são eternas...
Para viabilizar não apenas o aumento de participantes do Mundial, mas também a concretização de outras promessas como competições envolvendo seleções das categorias de base, era necessário aumentar o aporte financeiro da Fifa. Dassler, considerado um dos precursores da concepção de esporte como negócio, uniu-se ao inglês Patrick Nally, profissional de relações públicas, e juntos tornaram-se líderes na área do marketing esportivo, ajudando a Fifa a conseguir o dinheiro de que precisava. E mais do que precisava.
O presidente da Adidas costumava buscar os grandes atletas do planeta para exibir sua marca. Mas na década de 70 já descobrira que era mais interessante ir diretamente às federações e confederações esportivas, e a Fifa obviamente poderia ser a mais valiosa delas. Junto com Nally, trouxeram o patrocínio da Coca-Cola para a Copa de 1978 e até hoje a empresa continua “parceira” do evento, com contrato até 2022. Começava a se robustecer ali o futebol como negócio. As Copas de 78 e 82, as duas primeiras realizadas sob os auspícios de Havelange, renderam US$ 78 milhões e US$ 80 milhões, respectivamente. Já o último Mundial sob comando do brasileiro na Fifa, em 1998, com 32 seleções participantes, gerou um faturamento de US$ 4 bilhões, um crescimento de 50 vezes em 24 anos.
Havelange deixou como legado um futebol mundializado: hoje, a Fifa tem 208 filiados, resultado direto da sua política expansionista. É mais do que o número de membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem 192 países membros. Isso ocorre porque a entidade futebolística reconhece possessões e colônias como a Guiana Francesa e nações como a Palestina. De novo, o interesse passa longe de questões humanitárias; basta lembrar que operadoras de cartão de crédito têm procedimento semelhante, “reconhecendo” países que não existem para facilitar seu modus operandi. Talvez não seja mera coincidência.
O mercado de “pé-de-obra” - A globalização da bola e do dinheiro também tornou mais banal a transação de atletas entre equipes de todo o mundo. Atualmente, a Fifa estima que entre 20 e 30 mil jogadores já tenham saído de seus países para tentar a sorte em lugares que inclui países como o Vietnã (destino de 34 atletas brasileiros entre janeiro e outubro de 2009) e os grandes centros europeus). E as somas envolvidas nas transações cresceram de forma exponencial nas últimas décadas.
O jornal espanhol Marca fez um levantamento sobre a evolução dos valores das transferências de craques da bola, partindo da negociação de Johan Cruyff em 1973. O astro da Laranja Mecânica, a seleção holandesa de 1974 que revolucionou a tática no futebol, foi do Ajax para o Barcelona pelo valor atualizado de 360 mil euros. Nove anos mais tarde, a ida do craque argentino Diego Maradona para o mesmo Barcelona daria aos cofres do clube portenho a soma de 7,2 milhões de euros, 20 vezes mais do que o valor do capitão holandês. Já em 2009, a negociação envolvendo Manchester United e o Real Madrid selaria a maior transação na história da modalidade: 94 milhões de euros pelo português Cristiano Ronaldo.
Embora tais transações entre países existam desde antes da profissionalização do esporte (no Brasil, Arnaldo Porta saiu de Araraquara para jogar pelo Verona, da Itália, em 1914), o movimento se intensificou e tomou ares de grande negócio a partir das décadas de 70 e 80, quando os países europeus começaram a derrubar suas restrições a estrangeiros nas ligas nacionais.
O jornalista Paulo Vinicius Coelho, o PVC, em seu livro Bola Fora – A História do Êxodo do Futebol Brasileiro (Panda Books), conta que, em 1974, a Espanha passou a permitir dois estrangeiros por clube, independentemente de eles terem ou não ascendência espanhola. Isso fez com que jogadores como os palmeirenses Luis Pereira e Leivinha migrassem para os gramados espanhóis. Outro importante mercado, o italiano, fechado para atletas internacionais desde o fiasco da seleção local na Copa de 1966 (quando foi derrotada pela Coreia do Norte), reabriu em 1980, permitindo um estrangeiro por clube. Assim, o meia Falcão foi tornar-se o “Rei de Roma”, abrindo caminho para outros brasileiros, favorecidos por mais uma abertura na Itália e na Espanha depois de 1982, quando passou a se permitir três estrangeiros por clube.
No biênio 1983/1984 o Brasil viu jogadores com carreira consolidada na seleção brasileira irem para a Itália, como Zico e Sócrates, mas na segunda metade da década aumentou o número de países que passaram a recrutar o “pé-de-obra” brasileiro. Mirandinha foi o primeiro brasileiro a jogar na Inglaterra em 1987; Romário foi para o PSV da Holanda em 1988, enquanto o zagueiro Júlio César, titular da seleção de 1986, se transferiu para o Brest francês logo depois da Copa.
No entanto, o caso do jogador belga Jean Marc Bosman modificaria o cenário das transferências de atletas no futebol. Após ter seu contrato encerrado com o Liège, da Bélgica, o meia anunciou que iria se transferir para o Dunkerke, da segunda divisão francesa, mas foi impedido porque o seu vínculo – ou passe – ainda pertencia ao Liège, que exigiu € 600.000 pela cessão. O atleta recorreu à Justiça reivindicando para si a aplicação da lei que permitia aos cidadãos do continente trabalhar em qualquer país da Comunidade Europeia sem restrições. Em dezembro de 1995, o Tribunal de Justiça Europeu deu razão a Bosman, em uma decisão que criava jurisprudência tornando ilegais as indenizações por transferência de jogadores e as cotas que limitavam o número de atletas comunitários.
Desde então, qualquer jogador que tenha passaporte comunitário pode atuar livremente nos países da Comunidade Europeia, o que beneficiou o fluxo de atletas para o Velho Mundo. Aqui, a Lei Pelé adaptou a legislação brasileira à realidade do fim do passe em 1998. Os números mostram que a queda de barreiras aumentou e muito a transferência de boleiros para o exterior. Em 1995, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) registrou a saída de 254 jogadores e, em 2009, de 1.017. Pode-se dizer que a crise econômica ajudou o país a manter alguns de seus valores aqui já que, em 2008 o êxodo foi ainda maior que no ano passado, com 1.176 brasileiros tentando a vida em outros países.
“O Brasil produz muitos jogadores e o mercado interno não consegue absorver. Outro fator que influencia para que saia é o fato de que nem sempre o jogador tem a mesma possibilidade de ascensão social que o futebol permite em outras profissões, diferentemente do que ocorre em outros países que têm mais estrutura”, explica Oliver Seitz, PhD em Indústria do Futebol e primeiro brasileiro a lecionar no curso "Football Industry", da Universidade de Liverpool.“Além disso, começaram a se desenvolver nos anos 90 mercados que não existiam antes como o Japão, os EUA, o Leste Europeu etc. O desmembramento da União Soviética, por exemplo, fez com que novos países precisassem formar suas ligas nacionais e, para buscar jogadores, Brasil e Argentina possuem marcas muito fortes no futebol mundial”.
Essas condições favoráveis fizeram da saída de atletas um importante item na pauta de exportação brasileira, gerando, segundo dados do Banco Central, US$ 1,199 bilhão para o país entre 1993 e 2007. Contudo, o perfil do negócio começou a mudar nos últimos anos: enquanto em 2005 as 804 transações realizadas para o exterior renderam US$ 159 milhões, 1.085 atletas saíram do país em 2007, mas foram então movimentados apenas US$ 49,8 milhões, menos de um terço do montante de dois anos antes. Uma das possíveis explicações para isso é a saída de atletas com cada vez menos idade, às vezes antes de chegarem a jogar no time profissional, o que envolve valores menores do que as negociações de jogadores já consagrados.
“Em breve, será muito difícil ver aqui jogadores surgindo e encerrando a carreira no mesmo clube, como o Maldini no Milan, que passou mais de 20 anos num só time; Raul no Real Madrid ou Totti na Roma”, acredita Gian Oddi, editor-executivo do portal IG. “Os brasileiros vão sempre ser exportadores, a questão é em que momento exportar, pois é lamentável ter que fazer isso com jogadores de 17, 18 anos. Talvez a opção melhor fosse reter para ganhar mais dinheiro no futuro”, pondera.
Agentes e negócios subterrâneos - Para muitos, os jogadores de futebol saíram das mãos dos cartolas para entregar suas carreiras aos agentes ou empresários responsáveis pela intermediação das transferências. Os jornalistas Claudia Silva Jacobs e Fernando Duarte, no livro Futebol Exportação (Editora Senac Rio) descrevem a que ponto chegou tal influência: “Hoje, há atletas da categoria infantil com representação. O aumento dos agentes não foi apenas de importância: a comissão cobrada dos clientes pode chegar a 50% nos casos de empresários mais gananciosos”.
Um dos exemplos de sucesso no meio é Wagner Ribeiro. Uma matéria da edição n° 13 da revista Piauí mostra um pouco da trajetória do empresário, que iniciou a sua carreira transferindo o atacante França do XV de Jaú para o São Paulo. Adquiriu os direitos federativos do atleta por 2,5 milhões de reais e, apenas quatro dias depois, revendeu ao clube do Morumbi por 4,6 milhões. O diretor-financeiro do clube, Paulo Amaral, disse à época que não sabia do “pormenor”, um dos lucros mais espetaculares de um agente em tão pouco tempo.
Ribeiro é também empresário de um dos garotos-sensação do Santos, Neymar, hoje com 18 anos. Ele já havia tentado, em 2005, cuidar de sua mudança para a Europa. Voou para a Espanha a convite do Real Madrid, junto com o pai e o menino, e durante vinte dias Neymar marcou 26 gols pelo juvenil do time. O fato propiciou uma oferta de 3 milhões de dólares e o time madrilenho teria chegado a arrumar um emprego de mecânico para o pai de Neymar, na montadora que patrocina a equipe, para justificar a mudança da família (a assinatura de um contrato profissional com essa idade era impossível). Por pouco Neymar não teve uma trajetória semelhante à do argentino Lionel Messi, titular do Barcelona que jamais chegou a atuar profissionalmente em uma equipe do seu país natal, jogando desde os 13 anos no clube catalão.
Em vista disso, já foi proposta e tramita no congresso uma alteração na Lei Pelé que cria mecanismos como o aumento do repasse de recursos para os clubes formadores dos atletas, que vale tanto para o futebol quanto para as modalidades olímpicas. Para as transferências que ocorrerem dentro do território nacional, passa a ser oficializado o “mecanismo de solidariedade” vigente em negociações para o exterior, que equivale a 5% do valor pago nas transferências de um jogador de futebol direcionado aos clubes formadores. Outro ponto é a proibição de empresários em manter vínculo com jovens de 14 a 19 anos. De todo modo, o Ministério Público Federal também está de olho na questão e instaurou um inquérito civil público para apurar o aliciamento ilícito de atletas profissionais e amadores de futebol no Brasil para o exterior.
E é claro que um negócio lucrativo e que cresceu tanto nos últimos anos como a transação de atletas de futebol também atrai outro tipo de problema. De acordo com o relatório do Grupo de Ação Financeira da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em julho de 2009, "os clubes de futebol são vistos internamente por criminosos como os veículos perfeitos para a lavagem de dinheiro". O documento descrevia um caso em que os investigadores obstruíram uma tentativa de lavagem de dinheiro por meio da compra de um clube italiano com dinheiro supostamente fornecido por uma associação criminosa da Itália.
“O que existe é uma selva e essa é a lei que impera. Não há controle, são transferências internacionais e privadas, portanto, fora do alcance dos governos. Decidimos que cabe à Fifa realizar esse monitoramento”, dizia o relatório da OCDE. Durante muito tempo, mesmo com transações envolvendo cifras milionárias, as negociações se davam com troca de faxes e em muitos casos isso ainda ocorre. Isso propiciou inúmeras negociações fraudulentas, muitas vezes envolvendo jogadores imaginários. Agora, a Fifa está implantando um sistema de transferência eletrônica que exige, entre outras coisas, a obrigatoriedade de que o dinheiro envolvido em uma transação de atleta seja depositado em conta bancária.
A telecracia no mundo da bola - “Hoje em dia, o estádio é um gigantesco estúdio de televisão. Joga-se para a televisão, que oferece a partida em casa. E a televisão manda.” É assim que o escritor uruguaio e fã de futebol Eduardo Galeano, no livro Futebol ao Sol e à Sombra, comenta o fato de os times terem que jogar ao sol do meio-dia na Copa do México em 1986, para adequar os horários ao maior mercado consumidor da modalidade, a Europa. Aliás, segundo Como eles roubaram o jogo, de David A. Yallop, esse foi um Mundial em que a participação da televisão havia alcançado outro patamar.
A sede inicial para a Copa de 1986 seria a Colômbia, que ganhou a indicação em 1974. No entanto, uma comissão da Fifa enviada ao país para analisar toda a infraestrutura necessária para o evento vetou a realização. O México, concorrendo com os EUA e Canadá, conquistou uma indicação que lembrava um jogo de cartas marcadas. O motivo era o interesse de Emilio Azcarraga Milmo, magnata das comunicações e dono do sistema Televisa mexicano, um dos maiores conglomerados de comunicação do mundo. Segundo Yallop, João Havelange, então presidente da Fifa, teria relações estreitas com Azcarraga, que vislumbrou que o futebol poderia ser um espetáculo midiático muito antes dos dirigentes da bola, tanto que adquiriu o América local, hoje um dos clubes mais fortes do país, em 1959.
Por fim, a Colômbia foi desclassificada por “não ter condições” de sediar a Copa, de acordo com uma comissão da Fifa. O México superou EUA e Canadá e sediou a Copa de 1986. A Televisa foi responsável pela transmissão e a União Europeia de Televisão desembolsou mais de 30 milhões de dólares pelos direitos de retransmissão do evento. Segundo Yallop, Havelange, quando questionado sobre ter alguma ligação financeira com Azacarraga, negou, para completar em seguida: “Se eu resolvesse estar financeiramente ligado, isso seria inteiramente legítimo”. Calcula-se que, para a Copa de 2014, no Brasil, aproximadamente US$ 2,2 bilhões serão faturados com a venda de direitos de transmissão.
A televisão também foi essencial para a recuperação do campeonato inglês, abalado pelo domínio dos hooligans nos estádios. Os times da terra da Rainha chegaram a ser banidos da Europa após a morte de 39 torcedores no Estádio Heysel, na Bélgica, na partida Liverpool e Juventus, final da Liga dos Campeões da Europa em 1985. Mas em 1992 surge a Premier League e a venda dos direitos de transmissão passou a ser feita diretamente pelos clubes, que concederam os direitos à Sky TV. O acordo inicial, fechado em 191 milhões de libras por 5 anos, saltou para 1,97 bilhão de libras para transmitir os jogos das temporadas 2010/2011 a 2012/2013.
Mas nem tudo são flores no negócio inglês. Os jogos não são transmitidos pela TV aberta e mesmo para passar os melhores momentos de uma partida ou os gols, as emissoras precisam pagar, como fez a BBC no pacote 2007-2010, desembolsando 188 milhões de libras pelos resumos dos jogos. E se muitos reclamam da influência da Globo, detentora dos direitos de TV do campeonato brasileiro, e que influencia nos horários e dias de jogos quase a seu bel prazer, lá é muito pior. “Na Inglaterra, a ingerência é muito maior, há até jogos disputados pela manhã porque precisa passar para a Ásia”, conta Oliver Seitz.
A gestão do “país do futebol” - Quem comparar os direitos de transmissão do campeonato inglês com o do Brasil, dito país do futebol, vai se deparar primeiro com a diferença financeira entre os dois. A Rede Globo garantiu o torneio brasileiro pelo triênio 2009/2011 por R$ 400 milhões anuais, o que não chega a 20% do valor da Premier League. Como a emissora adianta o pagamento de cotas de televisão para clubes endividados, eles acabam se tornando reféns, e o grupo da família Marinho tem sempre a preferência de cobrir qualquer proposta maior que a sua. Ou seja, participa de um leilão em que sabe o lance do adversário.
O êxodo de atletas também contribui para que o valor da competição não chegue a níveis mais altos, assim como dificulta sua venda para outros países. “O Brasil tem mais dificuldade para globalizar porque os melhores jogadores não jogam aqui. O grande mercado consumidor da Ásia ainda é afetado por conta do fuso horário, já que o valor de um jogo ao vivo é muito maior do que um gravado. Há ainda uma questão cultural, já que os asiáticos olham muito para a Europa em termos culturais, uma relação que não acontece com o Brasil”, esclarece Seitz.
Mas é na distribuição dos recursos oriundos das cotas de televisão que se mostra uma diferença fundamental na forma como os clubes ingleses e os brasileiros veem a gestão do futebol. Na Inglaterra, o dinheiro é distribuído da seguinte forma: 56% é partilhado igualmente entre os 20 clubes da competição, 22% de acordo com a performance e outros 22% segundo a audiência televisiva e o número de jogos transmitidos. Já no Brasil, existe um modelo que perpetua as desigualdades entre os clubes: são quatro grupos distintos, sendo que quem recebe mais ganha quase o dobro de quem recebe menos.
“Lá eles querem diminuir a diferença entre o que ganha um clube grande e um pequeno. Sou totalmente favorável a isso, mas seria voto vencido por conta dos interesses dos grandes clubes daqui”, sustenta Amir Somoggi, diretor da área Esporte Total da Crowe Horwath RCS. “As ligas americanas como a NBA dividem de forma igualitária o dinheiro dos direitos de transmissão, é como se aqui o Atlético-GO e o Flamengo ganhassem o mesmo. O Flamengo jamais aceitaria isso, mas a Liga lá faz isso para trazer um equilíbrio financeiro que traz um equilíbrio esportivo para a competição. Tirando tal receita, as demais, provenientes de estádios e de marketing, fazem com que os grandes faturem muito mais do mesmo jeito, portanto, uma divisão mais igualitária seria bom para eles e para o próprio campeonato, já que é interessante que clubes menores também tenham uma força grande na luta pelo título”, garante.
Talvez justamente a busca de receitas seja um dos pontos que mantém essa situação inalterada. Em 2009, os contratos de transmissão dos jogos geraram 27% das receitas obtidas pelos 21 maiores clubes brasileiros, enquanto 21% se relacionou com a venda de atletas para o exterior (em 2008, esse índice foi de 28%). Os dados da Casual Auditores mostram um início de diversificação de receitas, o que pode ser uma tendência no futuro. “Os valores dos patrocínios aumentaram de 7 a 8 vezes desde 2003. Paralelamente os clubes, com a chegada do Ronaldo, passaram a repatriar alguns grandes ídolos, como o Santos fez com Robinho, por exemplo. Esse movimento atrai mais atenção para os clubes e potencializa a atração de patrocinadores”, explica Eduardo Generoso, presidente da empresa de marketing esportivo ESM (Entertainment Sports Management).
Para Amir Somoggi, os clubes brasileiros precisam atentar para três pontos em especial para melhorar seu potencial econômico e diminuir o fosso que os separa dos europeus. “Primeiro, a receita de bilheteria, é preciso parar de vender bilhete para um jogo só e criar um ambiente de consumo, tornar a receita mais ampla vendendo uma série de partidas. Outro ponto são as receitas de marketing, que vão além do patrocínio de camisa, e a receita de mídia tem que ir além da televisão, é necessário trabalhar novas mídias como redes sociais e telefonia móvel”.
Ele também faz ressalvas sobre uma fórmula que vem sendo adotada por alguns clubes e que prejudica o torcedor: o aumento abusivo do valor de ingressos. “Cada clube tem seu perfil, mas uma coisa é certa: a variável do preço de um ingresso deveria ser a última a ser mexida. O que falta é entender que ter 50 mil pessoas em um único jogo pode ser bom, mas é necessário trabalhar para ter 50 mil em todas as partidas e existe uma gama enorme de receitas que podem ser geradas em jogos. Os clubes do Sul, que trabalham com a ideia do sócio-torcedor, tendem a longo prazo a ganhar mais dinheiro que os do Sudeste.” Provavelmente ainda vai demorar para o futebol daqui se equiparar aos mais ricos do mundo, mas isso pode ser uma estratégia de sobrevivência para um esporte que já teve muito mais identidade com o brasileiro do que tem hoje. - Camila Souza Ramos e Glauco Faria

quinta-feira, 1 de julho de 2010

DIVULGAÇÃO: Jornada dos 20 anos do Curso de Psicologia - UNIJUÍ

Dia desses, sofri um imenso e bobo susto. Recebi um email de divulgação enviado pelo Luciano Metztorf, que é o Secretário Executivo do Departamento de Filosofia e Psicologia - Campus Ijuí, da UNIJUI, convidando para a Jornada de comemoração dos 20 anos do Curso de Psicologia da UNIJUI.
O susto se deu porque fiz a Graduação em Psicologia, na UNIJUÍ, tendo entrado na primeira turma e, com esse convite, percebi que vinte anos se passaram!
Reconheço que apesar de muitos tropeços e dificuldades, estou muito contente com o que produzi no decorrer desse tempo, assim como, com o percurso-devir que se anuncia para o pra frente.
Demorei quase sete anos para concluir o curso. Segui a trilha dedilhada por Deleuze e Guattari, apesar de ter tomado, por algum tempo, outros caminhos teóricos, mas me demorei por mais tempo do que o formal, por desencontros existenciais e por essa trilha que, como diz François Ewald: "Você quer fazer psicologia? Deleuze e Guattari dizem: aprenda história, percorra as grandes formações da história universal - "selvagens, bárbaros, civilizados" -, espolie a biblioteca do arqueólogo, do etnólogo, do economista, empanturre-se de literatura e de arte, estão aí as disciplinas que relatam, no seu conjunto e na diversidade, as produções de desejo". Escrafunchar a biblioteca da universidade, foi uma das tarefas mais gostosas do tempo demorado em que por lá andei. Boa parte de minha formação teórica vem desse rico tempo de estudos, pesquisas e convivências na UNIJUÍ.
Relembro uma certa acusação de ortodoxia psicanalítica que pesava sobre a proposta do curso, na época, e gosto de dizer que isso foi fundamental para a boa formação que tivemos e para podermos, também, ter tranquilidade para buscar, escolher e construir outros referenciais!
Talvez não possa estar lá para essa comemoração, mas grafo o momento bonito dessa história que todos nós fizemos!
Informações completas e inscrições pelo site www.unijui.edu.br/dfp - Fone: (55) 3332-0427 - 9165-1655

DIVULGAÇÃO: 10 ANOS COM MAFALDA

10 ANOS COM MAFALDA - QUINO
"Não importa o que eu penso da Mafalda, mas sim o que a ela pensa de mim." - Julio Cortázar
Neste álbum aparecem todas as tiras da Mafalda produzidas por Quino durante os dez anos em que manteve viva sua mais famosa criação. Aqui as historietas são ordenadas por temas: a família, a escola, a rua, assim está o mundo, etc., o que pode facilitar sua exploração na escola. Na introdução a este retrato completo da polêmica menina argentina, encontra-se uma comovente e reveladora entrevista concedida por Quino ao jornalista italiano Rodolfo Braceli.
Editora Martins Fontes