Sabemos que criar filhos não é uma coisa tão fácil quanto
dizem os promotores das tradições familiaristas... criar filhos, implica dentre
muitas outras coisas, em produzir com os mesmos, as noções básicas para o
convívio com o outro e para a delimitação das questões práticas da vida.
Vejamos, que vivemos num sistema capitalístico e, com isso,
tudo o que consumimos, tem um preço financeiro, sem contar todos os outros
custos (o tempo que usamos em nossa formação, o tempo que usamos trabalhando, o
tempo que gastamos correndo atrás das questões da vida prática, etc)... para
cobrir esse preço, precisamos trabalhar e ter remuneração... os filhos que
crescem sem entenderem essa noção, criam uma crença de que tudo funciona no
automático e então não precisam fazer nada para ter uma boa vida... se contam
com quem custeie isso, talvez passem a vida sem produzir essa noção... se vivem
em famílias com finanças apertadas, talvez aprendam, talvez não... enfim,
falemos um pouco sobre essas (des)criações e (mal)criações que se produzem nos
agrupamentos familiares que vivem dentro do modelinho clássico e um tanto
estúpido, de ir pro trabalho, voltar pra casa, fazer coisas e coisas, dormir,
descansar, cansar, enfrentar as porcarias de dificuldades que tanto se cultiva
e coisa e tal e tal e coisa.
As crianças, adolescentes e adultos criados sem produzir a
delimitação dos usos e custos de tudo o que usufruem em suas vidas, desconhecem
uma série de coisas, vejamos alguns exemplos:
1.
Desconsideram que a falta de noção sobre tudo,
em que foram criados, não é a realidade de todo o resto do mundo;
2.
Desconsideram que vivemos num planeta chamado
terra e, mesmo com a abundância, apresenta recursos naturais finitos, portanto,
tudo o que desperdiçarem, fará falta em algum momento e, além do mais, todas as
coisas materiais feitas no planeta, dependem da utilização dos seus recursos
para existirem;
3.
Desconsideram que para ter um espaço privado
para morar, alguém precisa trabalhar para construir, comprar ou alugar uma
casa;
4.
Desconsideram que para ter móveis e utensílios
para usar dentro da casa, alguém precisa trabalhar para comprar e, que, caso
não cuidem e preservem essas coisas, destruindo-as, alguém precisará trabalhar
mais para pagar a conta, ou será necessário tirar dinheiro de outras coisas
para pagar o desperdício;
5.
Desconsideram que a energia elétrica que usam
para ter luz, para ligar o ventilador, a estufa, o ar condicionado, o
computador, a televisão, entre muitas outras coisas, custa dinheiro e,
portanto, se deixarem tudo isso ligado à toa, alguém terá que trabalhar mais
para pagar a conta, ou será necessário tirar dinheiro de outras coisas para
pagar o desperdício;
6.
Desconsideram que a água na torneira, no chuveiro,
no tanque, na máquina de lavar roupas, entre outros lugares, custa dinheiro e,
portanto, se deixarem tudo isso ligado à toa, alguém terá que trabalhar mais
para pagar a conta, ou será necessário tirar dinheiro de outras coisas para
pagar o desperdício;
7.
Desconsideram que aquilo que comem e bebem,
custa dinheiro e, que, portanto, aquilo que serviram além da necessidade para
comer ou beber (suco, água, café, leite, iogurte, chá, comida, pão, lanche,
etc), quando jogado fora, custa mais dinheiro e alguém terá que trabalhar mais
para pagar a conta, ou será necessário tirar dinheiro de outras coisas para
pagar o desperdício;
8.
Desconsideram que um carro, além de produzir
poluição ambiental, custa dinheiro para ser comprado e para ser usado
(impostos, seguro, manutenção, etc), assim como, precisa de combustível para
andar, portanto, alguém precisa trabalhar para comprar o carro, para pagar os
seus custos e para colocar o combustível;
9.
Desconsideram que para ter sinal de internet,
alguém precisa trabalhar para pagar a conta;
10.
Desconsideram que todas as coisas pessoais que
deixam atiradas pelo mundo ou abandonadas na casa de amigos, custam dinheiro (a
roupa, o calçado, o shampoo, o sabonete, a escova dental, o creme dental, a
toalha de banho, a mochila, etc) e alguém terá que trabalhar mais para comprar
a reposição;
11.
Desconsideram que o que comem será expelido pelo
organismo e que não basta largar no vaso sanitário... alguém precisa trabalhar
para pagar a água e os produtos para limpar, além de fazer a limpeza;
12.
Desconsideram que a casa, os móveis e utensílios
não sejam autolimpantes, portanto, ao usarmos tudo isso, alguém precisa
limpar... e se não for limpo por quem usa e suja, alguém terá que trabalhar
mais para limpar ou para pagar quem limpe;
13.
Desconsideram que os móveis e utensílios não
contem com dispositivos automáticos que possam levá-los de volta ao lugar de
onde saíram, portanto, se tirou a cadeira do lugar e não a colocar de volta, a
mesma ficará atravancando o caminho dos demais; se usou algo e deixou largado à
toa, isso ficará atravancando o ambiente e alguém terá que usar o seu tempo
para guardar coisas largadas à toa pelos ocupantes da casa;
14.
Desconsideram que morar numa casa com outras
pessoas, não seja o mesmo que estar num hotel... o quarto não aparecerá
arrumado ou o banheiro não aparecerá limpo, com toalha trocada, com cesta de
lixo esvaziada, enquanto a pessoa estiver fora...
15.
Desconsideram que além da sujeira produzida numa
casa em função dos seus usos e abusos, há sujeiras que se produzem por conta
própria (poeira, umidade, etc) e isso tudo também não é autolimpante, ou seja,
alguém precisa ralar para limpar ou trabalhar para pagar quem limpe;
16.
Desconsideram que as roupas que usam no corpo,
as roupas de cama, as toalhas, os panos de cozinha, os tapetes, também não são
autolimpantes, portanto, não vão sozinhas do cesto da roupa suja para o tanque
ou para a máquina de lavar, nem desta para o varal e nem do varal para os seus
devidos lugares... alguém precisa fazer tudo isso... alguém precisa trabalhar
para pagar os produtos, a água e a luz utilizados para lavar;
17.
Desconsideram que o pátio duma casa não seja
autolimpante e nem as áreas de uso comum dum prédio de apartamentos;
18.
Desconsideram que a bóia que está no armário, na
geladeira ou que vai pra mesa todos os dias, custa dinheiro e alguém tem que
trabalhar para botar isso pra dentro de casa... alguém precisa sair pra
comprar... alguém precisa organizar e guardar... alguém precisa preparar as
refeições... e depois de comer a comidinha, não basta lavar o prato, os
talheres, o copo, a caneca que sujou... tem as panelas, tem as tigelas, tem os
panos, tem o fogão, tem a cozinha, tem a pia, tem um tantão de coisas para além
do umbigo de cada um que come;
19.
Desconsideram que quando invadem ou desrespeitam
o espaço do outro com barulhos, com gritos, com abusos, com sujeiras, com falta
de noção, estão também roubando a energia que o outro utiliza para viver;
20.
Desconsideram que ninguém gosta de ficar
pentelhando atrás de marmanjo pelas coisas com as quais não têm cuidado e que
se tomarem os cuidados necessários, ninguém vai ficar pegando no pé e nem ter
que ficar gastando energia atrás dos descuidos os dos prejuízos advindos dos
mesmos;
21.
Desconsideram que o trabalho dificilmente baterá
à porta de sua casa e muito menos do quarto em que dormem o dia todo, enquanto
alguém trabalha para bancar o teto e tudo o que há sob o teto em que dormitam
seus existires;
22.
Desconsideram que a vida não tem dispositivo de
funcionamento automático, portanto, estando engrenado nas condições do sistema
ou sendo anti-sistema, tentando se desengranar, é preciso correr atrás... é preciso
inventar a vida, porque a vida não se inventa sozinha... se não encontrou seu
rumo, não adianta ficar esperando caminho pronto,, é preciso inventar a
andança;
23.
Desconsideram que gente chata, deselegante,
invasiva e abusiva acaba confinada ao seu próprio si, porque não dá pra viver
com quem ocupa todo o espaço, todo o ar e toda a energia do ambiente para si.
Enfim, certamente, lembrarei de outros
pontos, então deixo o escrito entreaberto...